TRC #12 - Sobre um pé na bunda, espontaneidade, a road trip pela Itália e um noivado.
THE RENEGADE COLLECTIVE - Encouraging creatives to follow their passion
CIAO, BELLA
Cheguei da Itália hoje depois de dois vôos com o ar condicionado no talo ressecando meu nariz às 5 da manhã - e até chegar em casa já estava na hora de começar uma reunião virtual de 4 (sim, quatro) horas. Mas mesmo assim eu tô aqui escrevendo pra vocês com uma de várias epifanias que me vieram na viagem. Pra embalar essa leitura vou compartilhar uma playlist que eu ouço quando não quero ouvir nada (as in: piano minimalista). Ótima pra relaxar - e às vezes expandir - a mente.
Espontaneidade é questão de criar coragem ou questão de ser?
Senta que a historinha de hoje é longa…
O convite para eu me mudar pro Canadá apareceu em 2019 no dia seguinte do término de um namoro de quatro anos e uns picados. Eu tinha acabado de chegar em Toronto pra dar um coaching de um mês e tanto e no meio daquela manhã minha chefe sugeriu que podia ter uma vaga pra mim em Vancouver. Cinco semanas depois, no meu último dia em Toronto e depois de duas taças de mimosa no brunch com ela, o convite oficial foi feito.
- Aonde fica essa cidade? é legal?
- Do outro lado do país. Não é tão frio no inverno e nem tão quente no verão quanto Toronto.
- Ué então tá, quais os termos?
- Você tem que se mudar em duas semanas. É o tempo de ir pra São Paulo se desfazer do seu apartamento.
Não tinha nem passado na minha cabeça a opção de não aceitar. Eu não tinha nada a perder nem nada que me segurasse no Brasil. Gostava muito da minha vida em São Paulo mas aprendi com o tempo que eu tenho competência para construir a vida que gosto em qualquer lugar que eu for - e nada mais poético que recomeçar uma vida amorosa em um país completamente diferente.
Pena que ninguém tinha me dito que Vancouver é possivelmente um dos piores lugares pra ser solteira (poderia falar horas sobre isso, mas tem que ser ao vivo e com uma taça de vinho).
Mas entre vários rolês ruins e encontros errados veio um certo para o momento.
Ele era canadense, um tanto mais velho, muito maduro e absurdamente educado para o padrão brasileiro (normal educado pro padrão canadense). Combinamos de encontrar na praia perto de casa pra bater um papo, ele perguntou como eu gostava do meu café e como eu não respondi a tempo, me levou dois para que eu escolhesse.
Alguns dias depois me chamou pra jantar, me buscou da porta do meu apartamento porque tinha flores pra mim, e como não sabia se eu tinha vaso em casa levou um também. Nossos encontros eram sempre diferentes, uma hora era um passeio de bicicleta ao redor de False Creek no pôr do sol, outra hora era um brunch em um restaurante ou um vinho na sacada de casa. Sempre com uma flor, uma vela, um bom papo e palavras gentis.
Mas eu sempre senti que tinha alguma coisinha ali que me incomodava e que só depois pude perceber que também me causava um pouco de insegurança. Mas na época eu não conseguia identificar o que era.
Até que uma segunda-feira qualquer eu estava trocando mensagens com a Helen, uma amiga canadense que conheci pelo trabalho, tentando marcar com ela de tomar um vinho de fim de tarde. Escrevi pra ela perguntando se quarta era um bom dia, e ela respondeu: ‘Claro, quarta dia 12 fica ótimo pra mim.’
Quarta dia 12 era em três semanas.
E enquanto eu ria desse excesso de planejamento eu me dei conta que era isso que me incomodava no Matt - tudo tinha que ser planejado com antecedência e não tinha nenhum - nada, zero, niente - espaço para espontaneidade.
Não coincidentemente, três meses depois ele terminou comigo por uma mensagem que deu a entender que, para ele, estávamos em páginas diferentes naquele relacionamento.
Ele leu o meu excesso de espontaneidade como excesso de apego; eu li a falta de espontaneidade dele como falta de interesse.
Essa mensagem me destruiu. Foram dois dias chorando, completamente improdutiva, até eu entender que eu não tinha me apaixonado pela pessoa, eu tinha me apaixonado pelo romance.
Eu gostei do Matt por três meses e alguns buquês de flores.
Mas entendi que a pessoa, por mais gentil e interessante que fosse, tinha em falta uma coisa que eu tinha em excesso e não era meu lugar tentar mudar isso nela: espontaneidade.
E por ter entendido a origem do meu sofrimento, eu parei de sentir dor e comecei a sentir um alívio instantâneo. Porque agora eu já tinha identificado que espontaneidade era, para mim, uma característica sine qua non do parceiro que eu quero para mim - o que me dava ainda mais conhecimento para identificar ele quando ele aparecesse na minha vida.
E então veio o Leo.
***
Nada no nosso começo foi linear. Mas quando as curvas começaram a endireitar veio o romance: as flores, as viagens juntos, os vinhos, os papos, as praias no pôr do sol - e junto com tudo isso, o mesmo interesse em comum em planejar pouco e deixar a vida surpreender.
Foi jantando uma massa em um dia de inverno que decidimos fazer uma viagem de carro de Vancouver até Los Angeles pela Golden Coast dali duas semanas.
Foi nesse mesmo restaurante enquanto tomávamos uma garrafa de vinho com estômago vazio que decidimos ir para o Brasil passar uns 3 meses e depois emendar na viagem de carro pela Sicília.
E foi em algum momento desses 3 meses no Brasil que ele topou se mudar para o Rio porque do nada eu tropecei em uma oportunidade de trabalho que fez sentido pra mim.
Para nós, entrar em um carro com poucos planos e um de nós dirigir enquanto o outro vai pesquisando o próximo destino e aonde vamos comer e dormir, se tornou uma coisa bem comum. E foi com essa espontaneidade que fizemos nossa viagem de 18 dias pela Itália - e com essa mesma espontaneidade que ele me pediu em casamento em uma noite linda de Taormina dia 4 de Junho.
Desde que ficamos juntos ouvimos muitos comentários sobre como somos corajosos por tomar decisões tão rápidas, fazer coisas sem planejamento e se jogar.
***
Enquanto pensava no tema dessa newsletter recebi mensagem de uma amiga, que ficou um pouco distante nos últimos anos, contando que ela e o marido largaram a casa e a vida no interior de São Paulo para se mudar para o Mato Grosso e montar uma clínica
‘me inspirei em você quando largamos tudo e viemos pra cá, e ainda disse que é daqui para o mundo se não der certo. Temos que ser livres e aproveitar as oportunidades. Você e minha amiga que foi morar nos EUA são minhas inspirações de vida'.
Coincidentemente eu li esse texto no Substack semana passada da
sobre se esforçar para ser mais espontâneo e me chamou atenção essa parte:Falta em mim espontaneidade e leveza. Sabe aquele: “Vamo?” - “Vamo!”? Pois é, nunca tive e fico bastante irritada quando me vejo, perto da hora, precisando desplanejar.
***
O curioso é que eu sempre achei que o caminho mais fácil sempre fosse o da espontaneidade. Porque eu acho muito mais difícil ter um plano e seguir nele. Tanto é que já me questionei até que ponto eu sou espontânea como uma desculpa para não me comprometer com coisas que trazem resultado a mais longo prazo.
Claro que aqui eu não estou falando de uma viagem deliciosa ou de encontros impromptu com pessoas.
Mas sabe aquele pensamento “a vida é muito curta…". Ele é bom em doses homeopáticas, mas quando eu abuso dele, ele vira só uma desculpa para a falta de comprometimento com alguns planos.
E isso tudo me levou a revisitar o tema de disciplina, e como podemos trazer leveza pra ela enquanto consciência ainda que ela seja “pesada” enquanto trabalho. Mas, claro, isso é tema pra próxima newsletter.
A pergunta que eu deixo hoje pra vocês me ajudarem a responder: espontaneidade, dentro das devidas proporções de privilégio, é questão de coragem ou questão de ser?
Você é espontânea e, se não foi, acha que pode mudar e, se mudar, vai te trazer algum benefício?
Comenta aqui pra mim ou, como vocês parecem preferir fazer, lá no instagram mesmo. Vou juntar tudo isso pra trazer mais divagações de leveza, espontaneidade de disciplina na próxima edição.
De carro pela Sicília
Ontem eu prometi no Instagram trazer a blogueiragy solicitada das dicas da viagem pela Sicília e as compras que eu fiz nesses dias de Itália.
To aqui juntando tudo que eu tenho que considero útil de compartilhar mas vai ser muito mais fácil se vocês ajudarem a responder:
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