TRC #11 - Sobre leveza, Montelpuciano e Pés Cansados
Encouraging creatives to follow their passion
HELLO, GORGEOUS
Venho aqui direto do sul da Itália compartilhar pensamentos de Montelpuciano (o vinho, não a região) com vocês. Pessoas diriam que no fim eu to falando do equilíbrio, mas a verdade é que cada pessoa sabe do seu e esse é um pedacinho do que equilíbrio significa pra mim. Espero que gostem. Ah, e a única playlist possível pra newsletter de hoje é essa, claro:
RENEGADE: Pensamentos sobre leveza com Montelpuciano, vento no rosto e pés cansados.
Tudo o que eu faço na minha vida é pra sempre me levar de volta para esse momento que eu estou vivendo enquanto escrevo isso. Quando eu me sento pra descansar os pés cansados de andar 10km desbravando uma cidade até então desconhecida, com uma taça de vinho gelado na mão, sem nem saber que horas são ou qual dia da semana é, e sabendo que tirando um voo aqui, uma hospedagem ali, os próximos dias são papéis em branco.
Tem poucas sensações mais gostosas do que no fim de um dia de muita coisa nova tomar um banho, se permitir vestir coisas diferentes do seu normal, jantar em um restaurante local, beber algumas taças de vinho e voltar de patinete alugado conhecendo aquela mesma cidade à noite com um ventinho batendo na cara. Viver a espontaneidade de mudar a rota e entrar num bar que pareceu gostoso, jogar conversa fora com alguns locais que ainda não entenderam que eu não falo a língua deles e, quando deitar a cabeça no travesseiro, repassar tudo o que aconteceu durante o dia sem o medo de não conseguir dormir por conta de uma cabeça ansiosa.
Se muito, a ansiedade das noites de uma viagem se dividem entre estrategizar as malas da volta pra fazer tudo de novo caber, e fazer planos aleatórios para o futuro.
Como eu adoro pensar no futuro quando me sinto fora dele. O espaço mental de uma viagem é quase como um pit stop da passagem do tempo que sempre me enche de inspiração.
Nunca resolvo tantas coisas de trabalho estando fora dele.
Nunca faço tantos planos bons pra mim quando estou longe da minha rotina.
Nunca tenho tanta clareza de como quero levar minha vida quando estou vivendo em outra.
Quase como quando a gente para de pensar em um problema, a resposta vem.
Lembro de um dia na sala do meu terapeuta que eu disse com a arrogância de quem acha que já entendeu tudo sobre si no auge dos seus 20 e tantos que sabia que tinha nascido pra viver viajando e ‘era isso que faltava na minha vida’. Fabio deu um suspiro quase imperceptível com um sorrisinho de lado como quem já tivesse ouvido esse discurso várias vezes de outros 20 e tantos iguais a mim, e me mostrou com argumentos bem construídos, e que eu não consegui derrubar durante as semanas que seguiram essa sessão, de que esse era um pensamento infantil e fantasioso da pessoa que eu achava que queria ser, e que, para mim, criar raízes e uma rotina agradável traria muito mais respostas do que viver fugindo dessa construção.
Hoje, aos trinta e tantos, com um pouco mais de clareza de quem eu sou e a certeza de que ainda não sei muito - mas muito mais viagens nas costas - sei que o que deixa esse momento que eu estou vivendo em um avião entre Milão e Palermo mais gostoso é experimentar o outro lado dele, pela maior parte do ano. O lado da produtividade e da rotina, dos desafios diários, da satisfação da superação deles, de reclamar vez ou outra do trabalho ou do domingo ou de ter que pensar em alguma coisa pra jantar depois de uma jornada de 12 horas, e a possibilidade da execução de todos aqueles planos que foram feitos com a cabeça no travesseiro de hotel.
Sem isso tudo, essa pausa não seria tão gostosa. Se eu vivesse viajando, isso seria meu normal, e que triste seria sentar na frente da Duomo de Milão com uma cumbuca de straciatella, a taça de Montelpucioano e sentir.. nada. Talvez uma vontade de ter a normalidade de que todo mundo reclama.
E é por ter vivido em vários lugares, e dado mais valor para a volta pra casa a cada vez, criando a casa e a rotina que me fazem bem, que eu aprendi a viver a leveza da vida mesmo quando ela é mais pesada.
Criar uma rotina leve, uma relação leve com quem eu sou e até um trabalho que a própria cobrança vem com o tom da leveza, e co-criar um relacionamento leve com alguém que embarca em todos esses aviões e espontaneidade comigo.
A ironia é que a minha busca eterna pela leveza não vem sem trabalho duro, mas é um caminho que vale a pena escolher - e que quando a gente se perde dele, sempre da pra voltar de onde parou.
Super recomendo.
PS: se você está acompanhando essa viagem no meu instagram e quer saber mais detalhes de roteiro, custos, etc, manda aqui o seu ciao.