O sol atravessava as portas de vidro do Fairmont Pacific Rim com a gentileza de uma primavera que, enfim, parecia se desculpar pelo inverno longo. Era o primeiro respiro de luz depois de meses arrastados de céu cinza, pele ressecada e a espera interminável por um céu aberto.
Naquele dia, deixei Caetano — agora com quase um ano — na creche para, pela primeira vez em muito tempo (tempo esse que às vezes parece eterno, outras vezes, um sopro), eu poder ser só eu por algumas horas. Sem culpa. Só com cuidado.
Normalmente, eu sairia com tempo de sobra, aproveitando o carinho do sol na pele enquanto caminho pela Burrard, sentindo uma pontinha debochada de pena de quem enfrenta o trânsito — enquanto eu vou em direção ao meu spa preferido (pelo menos por enquanto). Desceria a rua admirando as montanhas, ainda salpicadas de neve no topo, sem acreditar que, mesmo depois de seis anos, essa cidade ainda me tira o fôlego. Tomaria um café no Giovanni, servido na temperatura perfeita, com a espuma de leite no ponto exato, antes de subir ao quinto andar e chegar, como boa canadense adotiva, 15 minutos adiantada.
Mas não foi bem assim.
Caetano precisou ir mais tarde para a creche — porque, entre outras coisas, a maternidade me ensinou que planejamento é mais uma piada interna do universo. Peguei o trânsito na Lions Gate Bridge (ida e volta, como manda a tradição), que me irrita na mesma proporção que me hipnotiza com a vista. Mandei mensagem pro meu marido me esperar na portaria pra trocar de turno e me deixar no hotel.
Dessa vez não teve caminhada ao sol, nem deboche silencioso, nem montanhas poéticas, muito menos café. Mas cheguei. Subi para o quinto andar e, na mesma velocidade em que corri para a recepção do spa, fui desacelerada pela recepcionista. Ela percebeu minha pressa, ajustou o tom e o ritmo da voz, me chamou pelo nome como quem não precisou olhar na ficha, e me entregou um chá que parecia ter sido preparado sob medida para meu estado emocional.
O spa do Fairmont Pacific Rim é sempre calmo, mas nunca monótono. Cada detalhe foi pensado para provocar sensações: toalhas e roupões que acariciam a pele, aromas que equilibram notas cítricas, herbais e amadeiradas, playlists ajustadas à intenção da sua visita (relaxante ou revigorante), acepipes servidos com delicadeza e bom gosto, e uma estrutura que vai além da massagem — com sauna, banho sensorial e jacuzzi com vista para as montanhas.
Se você é uma veterana de spa ou uma feliz novata, o atendimento no Willowstream é sempre gentil e educativo: te explicam o que esperar, como aproveitar melhor, e fazem qualquer pessoa se sentir bem-vinda — não só naquele espaço, mas naquele universo.
No vestiário feminino, você recebe um armário com roupão e chinelo (e eles têm numeração para o pé de quem, assim como o meu, parou de crescer aos doze anos). A estrutura é tão completa — chuveiros, estações com produtos de higiene pessoal, e uma bancada com escova, chapinha, babyliss e até um Dyson — que tudo que você realmente precisa levar é sua roupa de banho para aproveitar a sauna e as jacuzzis ricas em magnésio.
Depois de me trocar, fui para a sala de espera e encontrei a terapeuta Taylor. Ela me chamou pelo nome, olhou nos meus olhos e perguntou como eu estava — como quem realmente queria ouvir a resposta, seja ela objetiva ou, mais provavelmente no meu caso, levemente dramática e prolixa. Me conduziu até a sala de massagem, espaçosa e iluminada por uma luz indireta acolhedora. Ofereceu opções de aromas e playlists, me deu as instruções, e saiu por alguns minutos.
Fiquei ali, sozinha, prestando atenção aos detalhes que deixam claro que nada naquele ambiente é aleatório. Fechei os olhos. Pela primeira vez em meses, me senti verdadeiramente vista e cuidada.
E foi com essa mesma intenção que recebi a massagem: cada toque parecia parte de uma coreografia silenciosa, um ballet de movimentos e pressões que me relaxavam a cada expiração — finalmente sem pressa.
Estar entregue a tantos detalhes — grandes e sutis — de cuidado com a experiência do cliente, no meio de um festival sensorial, fez muito mais do que me relaxar. Me devolveu a vontade de criar. E foi ali, deitada em uma das camas externas, deixando o sol esquentar minhas pernas cansadas do frio, lendo revistas locais, que percebi o tanto de inspiração que ainda vive em mim.
Por mais que a minha cabeça me mandava ficar e aproveitar toda a estrutura de spa para relaxar só por aquele dia que eu tinha dado todinho pra mim, o meu coração me fez querer sair dali e colocar tudo em palavras.
Então, como pequena homenagem a esse momento, dedico minha primeira review a esse lugar que, da primeira à quarta visita, entregou tudo — e um pouco mais.
Às vezes, a maior cura não é o descanso. É a faísca que reacende.
Se você gostou desse post e quer ver um pouquinho de como é esse spa por dentro, eu compartilhei recentemente nesse post aqui. Aproveita e me segue por lá pra mais conversas expressas sobre o assunto.
E você, mais uma vez, entregou tudo nesse texto.
Retail poetry.
Retail therapy without the consumism :)