TRC #9 - O conforto que eu queria ter descoberto muitos anos atrás.
Encouraging creatives to follow their passion
HELLO, GORGEOUS
Bem-vinda a primeira edição da The Renegade Collective na nova versão. hoje eu trago palavras de um amigo escritor que eu li há algumas semanas e voltaram pra mim enquanto eu pedalava pelo Rio. Enquanto eu escrevia o fim dessa newsletter eu só tinha uma música na minha cabeça que você vai ouvir enquanto lê essa edição. Não esquece de servir o cafézin preto, entrar na pidgeon pose, dar play e ler comigo.
RENEGADE: O conforto que eu queria ter descoberto muitos anos atrás.
Sabe esses amigos que a vida te dá por um acidente de percurso, que você não vê há muito tempo, mas a conversa e conexão continua viva? Eu tenho um desses, e ele é um escritor de sensibilidade extrema. Esses dias eu tive o privilégio de receber um texto dele, com um relato muito íntimo, que me fez derramar uma quantidade de lágrimas que a estação de metrô da Nossa Senhora da Paz nunca tinha visto antes. E a primeira escorreu quando eu li essa frase:
“I thought about the younger version of myself that would accept hideous situations in exchange for some attention. Of how much I fought for some people to accept me. I started to miss everything I didn't live".
Se você leu minha última newsletter, ou me acompanha no instagram, já sabe que eu recentemente aceitei um super desafio em uma marca incrível de moda brasileira e voltei a trabalhar no varejo. Se você não faz ideia do que eu to falando, voce pode ler mais aqui.
Semana passada eu comecei como head de varejo na Haight e tive que vir correndo pro Rio com uma malinha de mão alguns dias antes pra conseguir chegar no escritório a tempo do meu primeiro dia. Depois de uma semana intensa de trabalho - e um sábado visitando lojas e comprando roupa pra completar essa malinha defasada e montar meu guarda-roupa da marca - eu tirei a segunda-feira de feriado pra pedalar por aí, aproveitar um sol na praia e viver um dia sem muitos planos.
Acontece que mesmo depois de toda essas compras eu me vi só com um shorts e um top pra passar um feriado de verão no rio e foi isso mesmo que eu vesti. Pedalei por aí com meu protetor solar e minha franja ao vento por vários quilômetros até que meu corpo resolveu reclamar da quantidade absurdamente escassa de água que eu tomo por dia e parei pra tomar um negocinho gelado em um café.
Entreguei minha bike do Itaú num ponto qualquer ali perto da praia, pedi meu iced latte e fui ao banheiro lavar minha mão enquanto esperava o pedido. Aí eu me olhei no espelho e eu vi a cara da oleosidade, das manchas em uma pele que não tinha passado protetor solar com cor, da franja que virou pro lado errado com todo o vento que eu peguei na cara mas principalmente da pancinha que se esmagou entre o apertado do meu único shorts e do top que eu tava usando.
E dentro disso tudo o que mais me surpreendeu foi que eu me achei linda.
Percebi que aquele reflexo no espelho, que normalmente viraria uma inquietação pelo resto do meu dia junto com o arrependimento de não ter colocado a base e o shampoo seco na minha bolsa e o sentimento de inadequação, foi ofuscado pelo bocado de vitamina D que meu corpo pode produzir nos últimos dias, a sensação de um dia de folga muito bem merecido depois de uma semana produtiva, a felicidade de me sentir valorizada em um ambiente onde eu me reconheço como profissional, a satisfação em ser quem eu sou hoje nesse exato momento e lugar da minha vida e a liberdade em saber que eu sou a minha melhor companhia mesmo quando estou sozinha por algum tempo. Enfim, aos trinta e tantos anos eu consegui reconhecer em mim a beleza de fora como um reflexo daquilo que tá dentro.
Imediatamente o primeiro pensamento que veio quando eu percebi que não tava me importando com a bagunça daquele reflexo foi “porque eu demorei tanto pra chegar até aqui".
Foi inevitável sentir a tristeza pelas "coisas que eu não vivi” por medo de ser vista.
(Já falei um pouquinho das minhas questões com auto-estima aqui nesse post)
Se você que tá me lendo agora ainda está nos seus vinte e tantos anos, talvez você revire o olho nessa próxima frase, mas existe um espaço tão confortável que criamos em nossos mid-thirties que eu não trocaria por nenhuma festa dos meus mid-twenties.
***
Em alguns meses eu faço 35 anos e resolvi pesquisar o que marca o sexto setênio de uma mulher. Eis o que eu li:
O arquétipo desse setênio é o cavaleiro que anda ao lado do seu cavalo, demonstrando mais equilíbrio entre a razão e a emoção. A caminhada agora permite olharmos para uma parte da história já vivida.
Contemplamos o passado buscando identificar aprendizados para o presente e o futuro. Entramos em contato com a nossa bagagem interna e, com isso, uma nova pergunta emerge:
O que eu deixo e o que eu levo para a minha jornada daqui para frente?
Pensando que a vida é uma grande viagem, nesse momento estamos como andarilhos. Esse período nos convida para uma parada, a fim de sentirmos o que queremos de agora em diante.
Esse querer tem a ver com algo muito profundo em nós. Sim, é a nossa essência pulsando, querendo buscar o que realmente faz sentido, transcendendo os “tem que”, as escolhas, os papéis que foram construídos, seguidos e mantidos durante a vida e que talvez não nos caibam mais.
Se olharmos a crise como um ponto de transição e desenvolvimento, há aqui um grande desejo de liberdade, autenticidade em relação a si mesmo e às próprias escolhas.
Cresce uma necessidade de viver de forma coerente com o que se acredita internamente. Questões existenciais se intensificam, uma vez que, após passarmos por algumas fases com mais foco no externo e no Ter, nosso Ser pede por mais espaço dentro de nós, para nos guiar até o nosso propósito.
Eu to longe de ser a pessoa mais bem resolvida que você já conheceu. Continuo brigando com o espelho pelos mesmos motivos da adolescência, mesmo sabendo hoje que isso não ajuda em nada e não prova meu valor. Muitas vezes eu realmente sofro por não ser, por fora, quem eu realmente gostaria de ser, e por não ter a força de vontade de fazer o que eu acho que preciso pra me tornar essa pessoa. E depois eu enxugo as lágrimas e me dou conta que isso tudo é a parte menos importante de mim, e percebo que minha auto-estima é muito mais construída por todas as outras partes de mim que eu desenvolvi ao longo dos anos e aprendi a amar.
E isso é um ciclo. Vem e vai, e cada vez que vem perde mais força, perde mais o peso da importância até que ocupa um lugar tão menor que deixa espaço pra eu conseguir contemplar com carinho o reflexo no espelho até quando eu só enxergo caos. E a tendência é que esse espaço fique bem maior. E assim, daqui mais trinta e quatro anos e meio, quando o incômodo nem existir mais, eu vou finalmente entender com conhecimento de causa a perda de tempo que é essa preocupação toda.
Que a gente continue se importando cada vez menos, e que a tristeza pelas coisas que não vivemos pelo medo de sermos vistos se transforme em orgulho ao perceber como viemos longe.
Espero que você tenha gostado dessa edição da The Renegade Collective. Se você quiser continuar o papo ou sugerir algum tópico, fique à vontade para responder esse e-mail.
- Mafe
Amei esse texto! E tô feliz de te ler aqui ♥️